Vida além de estereótipos: projeto envolve idosas em atividades artísticas na UFPI
- Mobiliza Prexc
- 16 de abr. de 2018
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Atualizado: 20 de abr. de 2018

Pensar no envelhecimento é, para grande parte das pessoas, um momento de descanso e acomodação da vida pessoal. No entanto, perceber a Terceira Idade num mundo contemporâneo é, acima de tudo, entender que esse grupo vem adotando um estilo de vida mais ativo.
Baseado nisso, o projeto Arte e Cultura para a Terceira Idade, ligado ao Programa Terceira Idade em Ação (PTIA), conecta o entusiasmo desses idosas ao poder de expressão que a arte, em suas diferentes áreas, possibilita.
Iniciado em março, cerca de 300 pessoas, entre beneficiados, professores e bolsistas, participam e apoiam o projeto por meio de diversos cursos, como: pintura em tela, dança de salão, ginástica chinesa, musicoterapia, oficina de corpo e afeto, informática básica, hidroginástica, espanhol, orientação nutricional, educação em saúde, produção de mudas e plantas frutíferas e ornamentais, crochê e tricô, entre outros.
A coordenadora do Arte e Cultura, Profa. Drª Maria Rosângela, explica que o objetivo é desmistificar e dar um novo sentido para a velhice. Hoje, ela afirma que a temática principal do grupo é trabalhar as noções que o idoso tem sobre seu corpo, questões de afeto e cuidados.

“Como a gente sabe, a sociedade em si trabalha em olhar o corpo idoso com certo preconceito, então vamos desmistificando essa visão e essa concepção”, explica a coordenadora.
Também fazem parte do projeto cerca de 52 monitores e voluntários. Jaqueline Nunes é aluna de ciências sociais da UFPI e uma das monitoras. Ela acrescenta que é preciso olhar além dos rótulos para compreender a velhice. “Há muitos estereótipos em nossa sociedade e para acabar com eles é importante parar, escutar e observar”, diz.
Para ela, o Arte e Cultura trouxe um grande diferencial: descobrir que envelhecer é, na verdade, o começo da vida. “Aqui eu vi que elas são ativas, tem também uma vida sexual. Umas estão numa vibe de relaxar, outras estão começando a viver agora, sendo mais livres para viajar e para curtir a vida”, conta Jaqueline.
Com isso, a monitora lembra como o projeto serve para trazer essa renovação. “Tem uma aluna que era casada e, quando o marido morreu, ela entrou em depressão, pois foi na mesma época que os filhos saíram de casa. Ela veio pro Arte e Cultura procurando esse refúgio, tanto é que ela faz todas as atividades do projeto”, relata Jaqueline.
UM SOPRO DE VIDA
“Eu tenho que ser minha amiga, senão não agüento a solidão [...] Falar alto sozinha é criar uma voz potente”, retrata a escritora Clarice Lispector em um trecho do livro Um Sopro de Vida, lido durante um dos encontros do projeto Arte e Cultura para a Terceira Idade.

Maria de Lourdes Ferreira, 65 anos, é uma das participantes desse projeto e diz se sentir como na poesia. “Nós devemos falar alto e ouvir a nossa própria voz. Porque ouvindo a sua própria voz, você não fica em solidão. Você está se potencializando com a sua própria voz”, responde dona Lourdes quando questionada sobre o que ela vê no poema.

Lourdes, assim como as outras 50 participantes, declaram a importância do PTIA para o seu dia a dia. Ela está há cinco anos no projeto e diz: “O PTIA já faz parte da minha vida, aqui a gente avança”.
Segundo a psicóloga Marianne Eveline Carvalho, vivemos em uma época com relações superficiais. Com isso, os idosos acabam sendo o grupo mais vulnerável neste modelo de sociedade. Ela reafirma a importância de projetos com este caráter. “Existem pessoas que podem apresentar depressão nessa época da vida. Imagina alguém descobrir nos seus 70 anos o seu potencial criativo e viver coisas que não viveu em outra fase da sua vida”, diz a psicóloga sobre a relação da arte na Terceira Idade.
Por fim, para a especialista, trabalhos com este viés na cidade é um resgaste na motivação dos idosos e uma forma de permitir que se tenha um novo ciclo de vida.
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